25/11/2011

Especial Dia da Consciência Negra: Rap, combate a violência e educação



Dia 20 de novembro dia da consciência negra, data escolhida em homenagem a Zumbi dos Palmares que morreu nessa data no ano de 1695 e foi símbolo da resistência, da luta do povo negro por liberdade.

E agora em pleno século XXI, como esta a situação do negro na sociedade brasileira?

Hoje vamos debater dois pontos cruciais Educação e Violência, mas antes vamos recordar duas informações de extra importância: O Brasil foi o último pais da América a abolir a escravidão. E somos o país com a maior população de negros fora do continente africano segundo estimativas do IBGE censo 2010 há 100 milhões de habitantes negros no Brasil que equivale a 51% da população total.

Mesmo representando metade da população os negros sofrem com as seqüelas da escravidão. O racismo impera em nossa sociedade os indicadores sociais mostram o fosso que existe entre negros e brancos.

No Brasil em média o negro estuda 2,1 anos a menos que um branco, e os que conseguem concluir o ensino superior não chega nem a 5%. E a taxa de assassinatos de pessoas negras é infinitamente superior a de pessoas brancas. Os negros são mais vulneráveis a violência, porque sofrem as conseqüências do racismo.

O Hip Hop nacional vem travando uma dura luta contra o racismo, e o rap nacional com suas letras fortes e contundentes há anos denuncia o extermínio da população negra.

Vários manos da periferia encontraram no rap uma alternativa de vida , mas nem todos serão cantores ou terão grupos é preciso que além de rappers , também tenham médicos, professores, advogados, jornalistas entre outros muitos profissionais

Os negros precisam esta inseridos em todas as áreas, não é possível admitir que negros só possam ser cantores ou jogadores de futebol.

A educação é a chave do conhecimento que liberta, que revoluciona e por isso mesmo que não será dada pelo sistema, será preciso lutar por ela.

Como o nosso povo pode enfrentar a violência imposta pelo Estado racista brasileiro?

O Portal Rap Nacional trouxe para o debate o Douglas Belchior professor de História, Educador Social, militante socialista atuante no movimento negro, coordenador da União de Nucleos de Educação Popular Para Negros/as e Classe Trabalhadora (Uneafro-Brasil).

Confira nosso bate papo sobre genocídio da população negra, educação e movimento hip hop

Portal Rap Nacional : Segundo o IBGE em pesquisa divulgado em 2010, entre 2000 a 2008 a taxa de homicídios de pessoas negras foram superior a de pessoa brancas , como a Uneafro encara esses dados ?

Douglas Belchior : A taxa de homicídios cuja a vítima é a população negra sempre foi superior. Em 2009 a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, UNICEF e o Observatório de Favelas divulgam resultados de sua pesquisa, e os dados são estarrecedores: 33,5 mil jovens serão executados no Brasil no curto período de 2006 a 2012. Os estudos apontam que os jovens negros têm risco quase três vezes maior de serem executados em comparação aos brancos. Já o “Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil”, em 2002, em cada grupo de 100 mil negros, 30 foram assassinados. Esse número saltou para 33,6 em 2008; enquanto entre os brancos, o número de mortos por homicídio, que era de 20,6 por 100 mil, caiu para 15,9. A população negra é, historicamente, feita de “bucha de canhão” para os interesses das elites racistas no Brasil.

Com o fim da Escravidão, período em que negro escravizado era super-valorizado como mercadoria, essa população não só foi “descartada”, como passou a ser alvo de um projeto de extermínio. Esse projeto se inicia com a imigração européia, a partir da política de embranquecimento da população. Essa ação, a partir do Estado, continua até nossos dias: a miséria, a falta de serviços básicos como saúde, educação e moradia e principalmente a partir da política de “segurança pública” que condena a população negra ao encarceramento nos presídios e fundações, quando não assassinadas, como acontece de maneira explícita no Brasil. Nós da UNEafro-Brasil denunciamos o Genocídio da Juventude Negra como ação promovida pelo Estado Brasileiro.

P.R.N: Qual a melhor forma de enfrentamento do genocídio que a população negra continua sofrendo ?

Douglas Belchior: Em São Paulo, ao lado de movimentos tais como Circulo Palmarino, MNU, Consulta Popular, Levante Popular, Tribunal Popular, Fórum de Hip-Hop entre outras organizações, construímos o Comitê de Luta Contra o Genocídio, que tem feito ações importantes de denúncia e formação política em comunidades, além de atos públicos e intervenções na Assembléia Legislativa do Estado, no próprio Poder Executivo e nas instâncias do Poder Judiciário. Sabemos das limitações em denunciar o Estado para o próprio Estado. Por isso, gastamos a maior parte de nossa energia organizando trabalhos de base, seminários, formação em Cursinhos Comunitários e Escolas. A ideia é provocar nossa organização para resistir e lutar. Iniciativas como essa estão acontecendo em todo o país.

P.R.N: Sabemos que a educação é uma das formas de inclusão que a Uneafro trabalha, as políticas públicas vigentes voltadas para os negros e pobres, estão surtindo efeitos?

Douglas Belchior : O racismo é constitutivo do capitalismo brasileiro. É uma ideologia de dominação sem a qual a elite brasileira não se manteria. Esse quadro explica, em parte, o fato de a Lei 10639/03 (alterada pela lei 11645/08), apesar de sua histórica e festejada aprovação, não ter saído do papel. Afinal, sua intenção é justamente contribuir para a superação dos preconceitos e atitudes discriminatórias por meio de práticas pedagógicas que incluam o estudo da influência africana e indígena na cultura nacional.

É necessário trabalhar para que o Plano Nacional de Educação – PNE, que volta a ser debatido, contemple a necessidade de radicalizar na efetivação das leis 10639/03 e 11645/08. E mais que isso: Em tempos de reivindicação pelo aumento dos investimentos em educação para a ordem de 10% do PIB, a UNEafro-Brasil propõe uma bandeira paralela tão importante quanto: a obrigatoriedade da destinação de, no mínimo, 10% dos recursos da educação de municípios, estados e federação para a aplicação das Leis 10639/03 e 11645/08. É preciso também regulamentar punições severas aos gestores públicos que as descumprirem.

A educação, num sentido ampliado, é tudo o que rodeia e forma o indivíduo, seja na escola formal, no ambiente familiar, nos diversos espaços de sociabilidade. E hoje, mais que nunca, também através dos meios de comunicação, em especial a televisão, a produção cultural (sobretudo na música) e as redes sociais da internet. Essa realidade nos coloca o desafio de pensar numa radical reformulação da educação brasileira, não apenas no que diz respeito aos recursos, mas ao modelo educacional, aos valores e aos métodos.

P.R.N: Nesse 20 de novembro de 2011, o que pode ser comemorado?

Douglas Belchior : Dos 16 milhões de pessoas em condições sociais abaixo da linha da miséria, 70% são negros; Doa 14 milhões de Analfabetos no Brasil, 70% são negros; O Desemprego continua atingindo em maiores proporção a população negra, mesmo aqueles com qualificação profissional; Mulheres negras sofrem em dobro com o racismo e o machismo, são mal tratadas nos serviços de saúde, são desvalorizadas no trabalho e sofrem mais com violência doméstica e todos os tipos de assédios. A população negra é a que mais precisa do SUS- Serviço Único de Saúde, e é também a que tem mais dificuldade no acesso.

A população Quilombola não tem sua ancestralidade respeitada e suas terras continuam sem titulações; As religiões de matriz africana continuam perseguidas e desrespeitadas; A juventude negra continua a ser assassinada; o Estatuto da Igualdade Racial é uma mentira e as principais Universidades no Brasil, a USP por exemplo, recusam -se a implantar Cotas para Negros; O que há para comemorar? Nossa coragem e nossa resistência. Somos mais de 50% da população Brasileira. Mudar o Brasil pra melhor é nossa responsabilidade!

P.R.N: Quais as principais bandeiras de luta em pauta pelos movimentos nesse feriado?

Douglas Belchior: Há bandeiras, infelizmente permanentes: Contra O Genocídio da Juventude Negra; Contra o Machismo e a violência dirigida a mulher negra; Pelo feriado Nacional, Por um Estatuto da Igualdade Racial com caráter determinativo; por Cotas para negros/as em universidades, concursos públicos, partidos políticos, e mídias. Lutamos sobre tudo contra o racismo, o maior câncer da sociedade brasileira.

P.R.N: Articulação entre os movimentos sociais junto com o movimento hip hop o que falta para estreitar os laços?

Douglas Belchior: Nós da UNEafro-Brasil respeitamos e admiramos o Hip-Hop Nacional por sua natureza contestadora e revolucionária. O Hip-Hop popularizou a luta contra o racismo e a denúncia da violência policial em todo o país. Evidente que o capital busca cooptar os talentos e a própria cultura pelo poder da grana, mas somos muito confiantes naqueles que levam a bandeira da Cultura Hip-Hop de raiz, da luta negra e da justiça.

A militância política tem muito a aprender com o Movimento Hip-Hop, assim como o o Movimento Hip-Hop tem bastante a aprimorar com os grupos de estudo e de militância política. Precisamos construir esses espaços de encontro e de formação em comum, com tempo e paciência para estudar, debater e construir ações comuns. Motivos para lutar juntos não faltam. O Hip-Hop será a trilha sonora da Revolução Brasileira!

Esperamos que todos possam refletir em cima dessa matéria, porque é nóis por nóis, movimento HIP HOP, movimento negro, movimentos sociais diversos.

Somente a UNIÃO e a LUTA em conjunto será capaz de nós proporcionar a vitória , juntos somos fortes.

AXÉ…

Texto e Entrevista : Paula Farias

@paullafariass

Douglas Belchior

http://www.negrobelchior.blogspot.com

Uneafro http://www.uneafrobrasil.org/


Links de matérias publicadas

rap nacional

rap na veia

hip hop na quebrada


13/11/2011

Rocinha Paz sem justiça social é Ilusão


Por: Paula Farias

A favela da Rocinha esta em todo os noticiários do país e também é manchete dos principais veículos internacionais como a CNN, El Paris, New York Time entre outros.

Todos comentando a prisão do Nem chefe do tráfico e a ocupação da Rocinha pelas forças de segurança pública, os policiais ficaram no morro até a implantação das UPPS (Unidade de Polícia Pacificadora).

Hoje pela manhã no topo do morro a policia hasteou a bandeira do Brasil e a do Estado do Rio de Janeiro, para simbolizar que naquela região agora quem manda é o Estado.

Toda essa mega operação não aconteceu por acaso, porque já são mais de 30 anos em que a Rocinha é dominada por traficantes. E somente agora praticamente a vésperas da Copa do Mundo do Brasil em 2014, em seguida das Olimpíadas no Rio de Janeiro de 2016, que o Estado resolveu combater o tráfico de forma eficaz

Já que o maior traficante do estado foi preso e a ocupação da Rocinha aconteceu sem quiser ser disparo um único tiro.

Na realidade o que as autoridades cariocas querem é mostrar para a comunidade internacional que esta com os olhos voltados para o Brasil, que aqui quem manda é o Estado e que a criminalidade esta sendo combatida de forma exemplar e que a paz esta sendo instaurada.

Mas será mesmo que agora a Rocinha terá paz? Que os blindados e helicópteros da polícia vão trazer paz para esses milhares de brasileiros, trabalhadores que vivem na Rocinha a mercê da violência imposta pelo crime organizado e do descaso do Estado.

Infelizmente paz sem justiça social é pura ilusão, todo esse circo serve para estampar manchetes de jornais.

O que a comunidade da Rocinha e tantas outras precisam é que a constituição brasileira seja respeita e que os governos dêem ao povo educação, saúde, lazer, cultura, segurança condições de uma vida digna.

Não são policiais armados de fuzil substituindo os traficantes nos comando do morro que vai mudar a triste realidade desses moradores que desde muito cedo aprenderam a conviver com aos tiros varando a madrugada.

Enquanto os governantes posam para fotos e usam seus mais belos discursos de ordem, as famílias da Rocinha ainda continuam na mesma situação de incertezas.

Porque no Brasil policia não é sinônimo de segurança, muito menos de paz e, como ja foi dito Paz sem justiça social é Ilusão.

Foto:Google